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Criação de cromossomos humanos artificiais para terapia pode alterar para sempre a composição genética da espécie


Steve Connor escreveu para ‘The Independent’, de Londres, este texto traduzido e publicado no caderno ‘Mais!’ da ‘Folha de SP’:

O caso da família Hashmi, no Reino Unido, reacendeu o debate sobre os ‘bebês projetados’. Raj e Shahana Hashmi querem ter um filho com a ajuda da fertilização in vitro.

Eles não querem apenas que o bebê seja livre de doenças genéticas: também querem que seus tecidos sejam geneticamente compatíveis com seu filho Zain, de seis anos de idade, que sofre de uma doença rara do sangue.

O caso deles está sendo discutido pela Câmara dos Lordes.

Em 2000, os americanos Lisa e Jack Nash foram o primeiro casal a se beneficiar da criação de ‘irmãos salvadores’, quando seu filho Adam nasceu.

Os Nashes, ambos portadores de anemia de Fanconi, tinham uma filha de seis anos, Molly, que nasceu com essa rara doença da medula óssea.

Os cientistas testaram 15 embriões em busca do gene da doença. Depois, verificaram qual tinha o mesmo tipo de tecido que Molly.

O resultado foi Adam, que foi doador num transplante de células-tronco.

Mas as tortuosas disputas éticas e legais em relação a bebês como Adam parecem relativamente triviais perto do futuro debate sobre os desenvolvimentos tecnológicos da genética reprodutiva.

Alguns cientistas acreditam estar à beira de conseguir modificar o material genético humano pela primeira vez.

Não estão falando da relativamente simples terapia gênica, mas da chamada terapia gênica de células germinativas, na qual os genes das futuras gerações poderiam ser modificados para sempre.

É algo que faria os atuais ‘bebês projetados’ parecerem obsoletos.

Desastre inicial

Os primeiros experimentos com geneterapia levaram a situações desastrosas.

A mais terrível foi o caso do americano Jesse Gelsinger, que morreu em 1999, depois de passar por uma terapia gênica na qual foi infectado com um vírus geneticamente modificado.

A intenção era a de que o vírus carregasse genes saudáveis para seu fígado. Em vez disso, ele sofreu a falência do órgão.

Esse tipo de geneterapia mira apenas os tecidos danificados pelo gene defeituoso. A terapia genética de células germinativas envolve manipulação de genes no estágio do embrião, de forma que todas as células do bebê resultante carreguem o gene recém-inserido.

Essa modificação mais radical teria conseqüências amplas, porque também provocaria mudanças nos espermatozóides e óvulos do adulto maduro.

Significaria que seus filhos também herdariam os genes alterados, o que justifica o nome de geneterapia de ‘linhagem germinativa’.

Potencialmente, ela tem o poder de mudar a composição genética da humanidade de forma definitiva.

Cromossomo 47

No Reino Unido, a geneterapia que afeta células germinativas é proibida pela atual legislação, mas podem surgir logo pedidos para mudanças, especialmente à luz de trabalhos recentes com cromossomos humanos artificiais (HACs, na sigla inglesa).

A idéia é adicionar um cromossomo extra para complementar os 46 que normalmente residem na maioria das células do corpo.

Alguns cientistas acreditam que muitas das preocupações de segurança sobre a terapia genética germinativa podem ser dissolvidas por refinamentos da tecnologia que permitiria a criação desse 47º cromossomo humano.

Os proponentes dizem que os HACs são inerentemente mais seguros do que outros modos de introduzir genes no corpo, porque o DNA dos cromossomos artificiais está preso a uma estrutura que imita o modo como o DNA humano é naturalmente armazenado.

Eles acreditam que os HACs podem ser feitos de modo a se replicar com sucesso cada vez que as células se dividem. Também poderia ser possível incluir um mecanismo de autodestruição que impediria o HAC de ser passado às gerações futuras.

Os neurobiólogos Gregory Stock e John Campbell, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, estão na linha de frente da promoção da idéia de usar HACs para terapias da linhagem germinativa humana.

‘Em discussões de clonagem e modificações de linhagem germinativa em animais, é fácil fingir que as manipulações humanas podem ser ignoradas’, eles dizem.

‘Mas parece virtualmente certo que, conforme essas tecnologias se desenvolvem, seu foco irá se voltar para nós mesmos. A verdadeira questão não é se elas serão aplicadas a humanos, mas quando, como e até que ponto.’

Cromossomos artificiais têm sido usados em genética há vários anos, especialmente os que imitam cromossomos de levedura. Huntington Willars, da Escola de Medicina da Universidade de Pesquisas Case, em Ohio (EUA), fez o primeiro cromossomo artificial humano em 1997.

Ele pôs três tipos de DNA em um tubo de ensaio, e o ‘cromossomo’ primitivo se auto-organizou. Ele sobreviveu nas células por seis meses, aparentemente retendo sua integridade durante a divisão.

Stock e Campbell acreditam que logo será possível pensar em terapias radicais que insiram HACs feitos sob medida em embriões humanos. Eles sugerem, por exemplo, que um HAC pode ser construído com genes que confiram resistência ao HIV pela vida inteira.

Uma outra idéia é introduzir um HAC em embriões masculinos que contenha uma série de interruptores genéticos que, uma vez ligados, sejam capazes de disparar a destruição de células de câncer de próstata.

Se tratamentos preventivos como esses forem seguros, não é difícil imaginar uma gama de tratamentos vendidos na forma de ‘cassetes de genes’ num único cromossomo artificial humano. Talvez genes anti-envelhecimento possam ser somados a cada cromossomo extra.

‘Duas coisas serão necessárias antes que a engenharia de células germinativas humanas possa ocorrer em grande escala’, dizem Stock e Campbell.

‘Uma forma segura e confiável de fazer mudanças genéticas num embrião e modificações genéticas tão irresistíveis que um grande número de pais irá desejá-las.’

Eles afirmam que ambas estão mais perto do que muita gente acredita. ‘A hora de examinar e discutir os reais benefícios e desafios dessas novas tecnologias reprodutivas é agora, enquanto elas ainda são incipientes’, afirma a dupla.

Duas espécies

Um cenário que tem sido vislumbrado caso a engenharia genética de células germinativas prospere é a idéia de uma sociedade dividida entre os ‘enriquecidos geneticamente’ e os ‘naturais’ – algumas pessoas com dinheiro para explorar todos os aspectos da nova tecnologia em benefício próprio e de seus filhos, deixando que outras vivam e se reproduzam naturalmente.

Lee Silver, da Universidade de Princeton, acredita que embora uma distopia do gênero não seja iminente, é plausível e poderia no fim das contas levar a duas espécies de humano.

‘Se o acúmulo de conhecimento genético continuar à taxa atual’, diz Silver, ‘no fim do terceiro milênio a classe generrica e a classe natural se tornarão espécies completamente separadas, sem capacidade de intercruzamento e com um interesse romântico tão grande uma pela outra quanto o que um humano atual teria por um chimpanzé’.
(Mais!, Folha de SP, 20/3)



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